
Em 2001, meu irmão e eu havíamos assistido ao show de Eric Clapton, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Meu irmão viu lá do fundo e eu na primeira fileira. Nem sequer fomos juntos. Eu estava lá desde às 13h30, sob um sol de 34 graus e ele foi de arquibancada, perto da hora de começar. Foi um show memorável. Com tudo aquilo que esperávamos: empolgação, muita gente cantando junto, clássicos em suas versões mais clássicas sendo tocadas umas atrás das outras e, claro, luzes aos montes.
Ontem, Clapton retornou à Porto Alegre. As expectativas, desde a notícia de sua vinda, não pareciam serem as mesmas de dez anos atrás. Inclusive a minha, que comprei o ingresso na hora. Fomos novamente meu irmão e eu, mas dessa vez fomos juntos e unidos.
O que vimos foi um Eric Clapton no seu jeito sério e preciso em tudo que faz no palco. Um palco que não nada mais era que um mero palco. Ele estava ali para se apresentar, aos moldes das apresentações musicais de sua época, quando não havia qualquer possibilidade de tornar um espetáculo ainda mais fabuloso do que apenas tocar. Admiro alguns artistas, ao exemplo de Paul McCartney que, sem pensar duas vezes, encheu seu trabalho ao vivo de luzes e painéis, tudo isso, com direito a pirotecnia.
Vejo que as pessoas mais saudosistas são incapazes de criticar, no sentido de fazer uma interpretação, ao passo que acabam elogiando tudo e mais um pouco. Ficam cegos às mensagens que vão além da apresentação musical, além do que está explícito e, sobretudo, para além das capacidades artísticas de uma pessoa. Esquecem que ali está um homem. Ontem vi Eric Clapton cabisbaixo, depressivo, sem perspectiva de voltar a ser o "cara" que estamos acostumados a assistir através de nossos computadores, e que ouvimos desde muito cedo em nossos aparelhos de som. Ainda que a estrutura, em termos gerais, tenha ficado devendo, e muito, sendo uma das maiores reclamações o volume e qualidade do som, o músico foi quem criou o clima estranho que ali pairava.
Não acredito numa atitude prepotente, antipática e displicente, como ouvi algumas pessoas interpretarem a total falta de tato do músico para com o público, que não recebeu nem um “bye”. Acho que, realmente, uma mensagem era passada para nós, algo que transcendia a sua música: Eric Clapton não está numa boa fase emocional. Algo que não é novo na música, Brian Wilson que o diga.
Mesmo que não seja meu artista preferido, Clapton ainda figura entre eles. Preservo todo o meu respeito a esse mestre -- deus para alguns -- e fico feliz de colocar meu ingresso junto aos meus vinis dele, que ainda estão na primeira fileira dos meus discos.
Festejamos todos a vinda desse ícone do rock, da guitarra, que carrega uma linda história de vida de decadência e superação. Mas, infelizmente, não acredito que volte mais à nossa cidade e, infelizmente, não acredito que sua turnê vá até o final, caso ele não faça algo.
P.S.: definitivamente, a noite de ontem não foi o que a Zero Hora descreveu. Quem presenciou sabe.