quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CARTA AOS QUE FECHARAM A PORTA (PARAGUAY, AGOSTO DE 2004)


Certamente um dos piores dias da história daquele lugar. Talvez a maior tragédia para aquelas pessoas, depois das guerras. Num domingo, 1º de agosto de 2004, às 11h30, o hipermercado Ycuá Bolaños era consumido por fortes chamas, vítima da ganância e egoísmo humano. Em pouquíssimo tempo o fogo tomou conta e arrasou com todas as centenas de galerias daquele gigante. Porém, a verdadeira tragédia se deu pela falta de alternativa para as pessoas que lá dentro estavam, senão a de morrerem queimadas, porque as portas haviam sido trancadas. Fechadas pelo pensamento absurdo de evitar o saque das pessoas que ali consumiam com o dinheiro do seu trabalho.

Os proprietários Juan Pio Paiva e seu filho Victor Daniel Paiva Espínola, ordenaram que ninguém saísse dali até que descobrissem o que era aquilo. Provedores de famílias inteiras, populares, jovens trabalhadores, crianças, mães, pais, avós, compravam suas necessidades num ambiente lotado de gente, cheio mesmo, pois em menos de 24 horas seus salários chegariam. As cenas que se viam em todas as saídas eram de pessoas enclausuradas, chorando e berrando, jogando seus braços contra vidros de 20mm de espessura. Da rua, jogavam-se pedras e paus para tentar romper aquela vitrine da morte.


Saímos à rua para encontrar os familiares que estavam na cidade, enquanto telefonava para o Brasil para avisar que eu não tivera o azar de estar lá dentro. O fogo foi apagado somente um dia e meio depois e mais de 400 pessoas morreram. Os corpos eram levados para uma danceteria que tinha em frente ao horror e grande parte não pôde sequer ser reconhecida. Infelizmente, voltei antes do desfecho do acontecido, mas duvido que os responsáveis tenham sofrido alguma pena.


Nesse contexto, eis que surge uma carta anônima na redação de um jornal da cidade. Este e os demais jornais a publicaram dias depois. Era exatamente isso que sentíamos.



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os Efervescentes


Grupo portoalegrense Os Efervescentes.