
O fato é que, sempre que alguém vai à minha casa, pergunto se alguma vez na vida já assistiu ao filme “Quero Ser John Malkovitch”. A porta é a mesma. Quem entra nela fica por algumas horas vendo o mundo através dos olhos do tal de John.
A portinha aqui do prédio tem qualidades parecidas às do filme. Passando por ela, o cara desce por um túnel semelhante a um cano de esgoto e, em seguida, aparece na mente de um outro. E para que cabeças seria legal ir? Pessoas comuns não têm graça. Nem John.

E se, ao passar pela porta, eu entrar no cérebro de alguém famosão. Chico Buarque talvez. Caminharia no calçadão de Copa Cabana. Não seria nada fácil, todas as pessoas me conhecem e me falam algo, muitas coisas. A grande maioria me olha como se fosse um deus. As pessoas me adoram, algumas olham e não acreditam. Elas acham o máximo.
Entro novamente. Dessa vez vou mais além. Me encontro por detrás dos olhos de Paul McCartney. Estou no meio de uma composição. Pode ser que esteje somente relembrando de alguma canção que nunca coloquei em meus discos na companhia de Linda.
Pensei em várias outras pessoas em que minha portinha seria util. Talvez a maior utilidade dela seria a mesma que foi para o rapaz do filme, vender entradas para viajar na mente de alguém famoso. Isso me renderia uma bela grana, que é sempre bem vinda.