terça-feira, 11 de agosto de 2009

ATÉ DORMIR

Faltavam pouquíssimos minutos para as onze da noite e eu girava na cama quente e confortável. Sem qualquer motivo, eu decidira dormir cedo e assim o faria a semana inteira. Nessa primeira noite eu estava sozinho no meu quarto. Do meu lado, Vargas Llosa esperava ser aberto mais uma vez. Abaixo dele, muitas revistas dos meses anteriores, sobras da sala de espera de um amigo meu médico, que me prometera doá-las depois de cada mês. Porém, sempre muito ocupado, surje na maioria das vezes com uma pilha delas depois de cinco ou seis meses. Do lado esquerdo, algumas folhas que, se juntas, formavam o jornal do dia.

Nada fácil dormir cedo. Há quase quatro anos a televisão não me diverte. Sentei na cama para me levantar. Com as duas mãos abri a janela sincronizadamente, tipo porta automática de shopping. Deixei a cabeça escapar para o lado de fora e aspirei até preencher todo o espaço que ainda há em meus pulmões. O frio na rua não me intimidava. Assim que calcei os sapatos, agarrei minha carteira, meu casaco, uma manta e as duas últimas palomitas que tinha em casa, artigo que não se encontra há essa hora. Pensei que deveria aproveitá-las da melhor forma.

Batendo o portão do prédio atrás de mim, comecei o que propus a fazer: pensar. Senti-me arrependido. Pensar e repensar. São tantas coisas que para não começar puxei o isqueiro do bolso e acendi a cigarrilha. Na terceira baforada, antes mesmo da primeira esquina, abandonei o cigarro e resolvi aproveitar o vento que batia na minha cara para voltar pra casa.

Vou dormir cedo.


Por Beto STone

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